Um charuto é só um charuto?

Há alguns anos, penso que em meados de 2010, estava eu passando pela Rua Esteves Júnior, no centro de Florianópolis, quando uma frase escrita com esprei em um muro chamou-me a atenção, ela dizia: “Por que não reagir se é você quem está sofrendo?”. Lembro-me que fiquei muito intrigado com a frase e cada vez que eu passava por esta rua, fazia questão de lê-la novamente, palavra por palavra, como um detetive na ânsia de decifrar algum sentido outro que me fez paralisar frente a esta frase, que num primeiro momento, pareceu-me um tanto quanto óbvia.

Mas não sejamos ingênuos caro leitor. O óbvio pode nos cegar. À medida que naturalizamos certas verdades, ficamos alienados, nosso senso crítico é anulado e somos mais um no salão, dançando conforme a música.

Nem sempre o óbvio é tão óbvio ou as coisas ditas sem importância merecem essa consideração. O leitor deve estar pensando: “esses psicanalistas veem chifre em cabeça de cavalo”. Sei que às vezes um charuto é apenas um charuto, para parafrasear S. Freud, mas são por meio de frases ou de acontecimentos ditos óbvios, clichês, esquecidos, recordados, repetidos e “sem importância” que o analista tem a possibilidade de identificar e de trabalhar as formações do inconsciente que aparecem nesses discursos. Aí está um caminho possível para o tratamento.

Agora retomemos a minha frase: “Por que não reagir se é você quem está sofrendo?”. Ela lhe soa óbvia caro leitor? Talvez por nos parecer tão óbvia, não refletimos sobre ela como ela merece e mantemos os velhos sofrimentos e angústias de sempre.

Até quando?

Texto escrito em janeiro de 2013.