…Maria, ops! Eu quis dizer…

Caro leitor, sabe aquelas vezes em que se está falando com outra pessoa e de repente trocamos uma palavra por outra? Isso já aconteceu com você? Tenho certeza que sim. Às vezes é algo tão inusitado que ficamos nos perguntando de que lugar surgiu tal palavra. Nomes próprios então nem se fala, às vezes pensamos Maria, mas falamos João ou então pensamos José, no entanto falamos outra palavra muito próxima, sonoramente ou estruturalmente, dessa que pretendíamos ter falado. Você alguma vez se perguntou o porquê desses lapsos de linguagem?

Freud provavelmente sim! E chamou esses erros na fala de Atos Falhos. Apoiado na teoria psicanalítica e verificado na clínica, o ato falho é uma das quatro formações do inconsciente, ou seja, por meio dos atos falhos podemos ter acesso ao das Unbewusst, constatando a sua existência. Quando digo “podemos ter acesso” não significa que qualquer pessoa pode interpretar um ato falho e trabalha-lo na direção analítica proposta por Freud. O ato falho só se constitui como ato falho quando esse é cometido em análise e interpretado pelo o analista. De outra forma não há um ato falho, mas um erro, passível de qualquer inferência selvagem e longe de ser um trabalho psicanalítico.

Não esqueci que na última coluna deixei uma pergunta para esta edição. E longe de tornar minha promessa histérica, apresentei no parágrafo acima uma das maneiras de constatar a existência do inconsciente, por meio dos atos falhos. Mas o que os atos falhos têm a ver com o inconsciente? Tudo. Os atos falhos são uma maneira de tornar conscientes conteúdos que estão reprimidos no inconsciente. Ou seja, há um conteúdo latente no inconsciente, que por meio do ato falho, burla e transpõe a barreira de repressão tornando-se consciente. Lembrando que, todo esse movimento inconsciente independe de nossas vontades, por isso não entendemos o porquê dos lapsos linguísticos ou atos falhos. Mas agora já sabemos de onde eles vêm.

Apresentei apenas uma das quatro formações do inconsciente, as outras três são: o sonho, o sintoma e o chiste. Aos poucos trabalharemos cada uma delas, mostrando outros caminhos para o inconsciente.

Texto escrito em julho de 2012.