O dente arranca e a cabeça?

Caro leitor, responda-me as seguintes perguntas: Que profissional você procura quando está doente? Ou melhor, quando você sente que seu organismo não vai bem, quais são as medidas ou precauções tomadas? Aposto que você procura um hospital para se consultar com um médico, certo? Ou vai a farmácia mais próxima para se automedicar. E quando você sente aquela dor de dente, o que você faz? Logo procura um dentista para sanar a dor, que de fato, é insuportável.

Agora, que profissional você procura quando está angustiado, melancólico, sofrendo de uma dor silenciosa que surge de repente e que emerge de algum lugar desconhecido? Um psicanalista? Deveria ser. Procurar um psicanalista ou um psicólogo deveria se tão natural quanto procurar um dentista ou qualquer outro profissional especializado. Mas por que isso acontece pouco? Por inúmeros motivos, mas vou colocar apenas um deles: a psicanálise trabalha na direção da verdade do sujeito, ou se preferirem, na direção do seu desejo. Distorcendo Hamlet: continuar sofrendo ou encarar a verdade do meu desejo, eis a questão[1]. A pergunta parece ingênua, mas não é. O que você me diz leitor?

Antigamente, quando um sujeito sofria de dor de dente o tratamento mais eficiente era a sua extração. A dor cessava, mas o indivíduo estava fadado a viver o resto da vida sem o dente. Quando sofremos não podemos arrancar aquilo que nos faz sofrer, até porque o aquilo não existe! O sofrimento psíquico é de outra ordem, que não pode ser explicado (até porque isso não resolveria nada). A psicanálise propõe tratar o sujeito, e com isso, seus sofrimentos psíquicos. A direção da análise é no sentido da modificação do individuo frente às adversidades da vida. Lembrando que todo tratamento é falível e finito, ou seja, pode não alcançar um resultado satisfatório e deve ter fim, como nossa vida.

Texto escrito em setembro de 2012.