Sobre o sintoma

Hoje falarei sobre um tema de difícil recorte para se trabalhar em poucas linhas. Não que os outros não o eram, mas este, para mim, tem um caráter especial. Não sei se por sedução do próprio assunto ou por paixão do autor pelo tema.

Falarei um pouco sobre o sintoma psicanalítico. Perceba caro leitor, que se trata do sintoma psicanalítico, e não do sintoma médico, tão difundido e aceito em nossa sociedade ocidental.

Proponho que trabalhemos esse assunto de forma particionada, como já fizemos em colunas anteriores. Digo isso por dois motivos: o primeiro porque o tema é extenso e com muitos desdobramentos, como novos conceitos ou vocabulário psicanalítico, que não hesitarei em trabalhá-los. O último porque assim como a cura para a psicanalítica, a aprendizagem é construída por acréscimo, isto é, passo a passo; dando tempo ao tempo.

Mas o que é o sintoma psicanalítico? Iniciarei com a seguinte frase: “O sintoma é uma metáfora”. O que será que isso quer dizer? Grosso modo, que o sintoma é um substituto de algo que foi afastado pelo recalcamento. Ou seja, não é uma satisfação pelas vias normais do desejo, e sim um escape, um caminho indireto para satisfazer a libido, que paradoxalmente, gera sofrimento e satisfação. Engana-se quem pensa que a psicanálise propõe eliminar o sintoma do paciente, como a maioria das práticas médicas. A clínica psicanalítica propõe tratar o sujeito, logo, o seu sintoma. Isso porque o sujeito é constituído pelo seu(s) sintoma(s), tratando o sujeito, o sintoma seria um ganho secundário.

Eliminar um sintoma significa, na maioria das vezes, deslocá-lo. Quando um tratamento é focado na supressão do sintoma, espera-se que este reapareça em outro lugar, como uma substituição. Por exemplo: uma fobia de baratas pode ser deslocada para um medo de lugares fechados. Os medos são reais, há angústia e sofrimento frente a esses objetos. No entanto, o sintoma não deixa de ser uma metáfora.

Seria ingênuo pensar que o paciente esteja curado no momento em que este anuncia que um de seus sintomas desapareceu. O psicanalista deve estar advertido e investigar as possíveis causas de constituição desses sintomas, quais são as raízes dessas manifestações. Porque aquilo que estava recalcado veio à tona em forma de sintoma. Qual foi a cena que permitiu o retorno do recalcado. Por hoje é suficiente, continuaremos na próxima semana.