A psicanálise é para todos?

Não é raro escutar que a psicanálise é uma portinha semicerrada no final do corredor de um prédio antigo no centro da cidade. Que é restrita a uma determinada classe social e que pratica honorários elevados. Essas crenças que figuram no imaginário popular, atribuem à psicanálise um caráter enigmático que desencorajam algumas pessoas a buscarem por uma análise, além de produzir preconceitos que divergem da história da psicanálise e de sua ética.

Sim, a psicanálise é para todos, mas não para qualquer um. É para todos porque se ocupa do sujeito. Não é para qualquer um porque busca produzir no analisante um saber[1] sobre o seu sofrimento, implicando-o com seu sintoma. Uma experiência que nem todos estão dispostos a enfrentar.

A psicanálise é para todos porque está na polis, na figura do analista, que deve estar atento as transformações e aos dialetos do mal-estar de sua época, escutando a singularidade de cada caso e as marcas do social que atravessam e constituem o sujeito.  

Nem todos podem pagar uma análise? Sim, é verdade. Devemos reconhecer que há sujeitos que não têm condições de remanejar o orçamento pessoal ou familiar para investir em uma análise. No entanto, a psicanálise se relaciona com o dinheiro de forma singular. Segundo Freud, dinheiro é um equivalente libidinal. Ou seja, é um indicativo da relação do sujeito com o seu sintoma.

Por isso os valores das sessões de cada paciente podem variar, pois cada sujeito lida à sua maneira com o sofrimento e investe de forma singular para combatê-lo. Assim, a análise deve custar alguma coisa para o sujeito. Mas quanto? Essa resposta não está dada. Trata-se de uma preocupação ética que cada analista deve responder do lugar de analista, não cedendo ao discurso do mestre ou aliando-se ao discurso do capitalista.

Escrito em 29/11/2019 por Vitor Werner: Psicanalista Florianópolis

[1] Inconsciente