O início do início

Dando continuidade a coluna após três meses de resistência do autor, não continuarei a explorar o sintoma psicanalítico como prometido na última publicação. Falarei um pouco sobre o movimento psicanalítico e as condições científicas e históricas de sua construção.

Para falar da invenção da psicanálise, começarei com um pequeno histórico sobre o seu mentor, Sigmund Freud.

Nascido em 1856 em Freiberg in Mähren, Áustria (hoje Príbor, República Tcheca), S. Freud era o filho mais velho de uma família judaica de comerciantes de lã. Aos quatro anos de idade mudou-se para Viena, onde viveu até 1938, quando foi obrigado a mudar-se para Londres, um ano antes de sua morte, em função da perseguição nazista.

Médico de formação e especialista em neurologia, Freud iniciou cedo sua formação intelectual. Após um logo percurso acadêmico e científico, iniciou sua clínica tendo as histéricas como seu principal campo de estudos.

Mas quando foi que Freud começou a fazer psicanálise? Qual foi a experiência que marcou a sua fundação? Nada se constrói do dia para a noite, não é caro leitor?

No início de sua clínica, em meados da década de 80 do século XIX, S. Freud e seu professor e amigo Josef Breuer utilizavam a hipnose como método de investigação para se chegar à cena traumática que teoricamente era a desencadeadora dos sintomas apresentados pelos seus pacientes.

No entanto, a sugestão hipnótica tinha alguns problemas: ela não funcionava em todos os casos, somente algumas pessoas eram suscetíveis ao processo hipnótico; mesmo identificando o trauma que desencadeou certo sintoma, isto não era suficiente para tratá-lo; como não era adequadamente tratado (não por incompetência, mas por não saber como fazê-lo), muitas vezes o sintoma deslocava-se, dando a falsa impressão de desaparecimento. Isto é, a angústia sentida anteriormente ficava latente podendo reaparecer em forma de uma fobia ou quaisquer outros sintomas.

A paciente Anna O., como foi cunhada por Freud, foi a peça chave do abandono do método hipnótico e da descoberta da “cura pela fala”. Em uma das visitas de Freud a sua paciente, Anna O. começou a falar continuamente, e quando Freud tentou intervir em seu discurso, a paciente pediu para que ele a deixasse falar, pois isso a ajudava. Foi a partir desta intervenção, feita pela paciente e escutada pelo ainda médico, que Freud iniciou a construção da psicanálise.

Texto escrito em janeiro de 2013.